quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

continua...

Avelino Araújo

POESIA-PRÁXIS: Mário Chamie

Ferreira Gullar

Alguns poemas concretistas...

Haroldo de Campos. NOTE AS FORMAS GEOMÉTRICAS FUTURISTAS ENCONTRADAS NO POEMA.

Augusto de Campos

Décio Pinagtari. NOTE QUE O POEMA, QUERENDO OU NÃO, SERVE DE ESTÍMULO PROPANGANDÍSTICO.

NEOCONCRETISMO: Hélio Oiticica

Lygia Pape 

Lygia Clark

INSPIRAÇÕES CONCRETISTAS: Paulo Leminski

Arnaldo Antunes

POEMA-PROCESSO: Pinto Dias

Moacy Cirne.

CONTINUA...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Seminário de LitBras I:: CONCRETISMO

Devido a correria que foi a nossa apresentação resolvemos postar  o nosso trabalho aqui no blog.

Nos primeiros anos da década de 1950, quando os países da Europa ainda se recuperavam das conseqüências da Segunda Guerra Mundial, alguns poetas brasileiros se agrupavam no estudo da revistaNoigrandes.
O Brasil, vivia uma época de democratização política e de desenvolvimento econômico, que foi intensificado no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), que prometia um grande avanço histórico, no lema de "cinqüenta anos em cinco".
Os planos do governo JK eram de modernização do país, o que resultaram em grande crescimento industrial, aumento de empregos, e conseqüentemente, a renda dos trabalhadores. Devido ao desenvolvimento e grandes realizações, como a construção de Brasília, e a estabilidade política, houveram períodos de muito otimismo, chamados de "anos dourados".
As atividades do mercado editorial no país também foram fundamentais no desenvolvimento. Medidas do governo para a isenção de impostos sobre o livro e incentivos para a indústria de papel nacional, resultaram em expressivo crescimento, um exemplo foi o ano de 1962 que teve a produção de 66 milhões de livros.
O progresso aconteceu em ritmo acelerado; as casa já contavam com telefones, televisores e eletrodomésticos, os ônibus tiveram dividiam espaço com os carros. Muitos produtos e tendências norte-americanas chegaram ao país, mudando o comportamento dos brasileiros da população, como a Coca-Cola e o rockn’roll, porém não para alguns setores da sociedade, que consideram essa invasão de novos hábitos prejudicial e então o governo de JK, passou a ser criticado.
Em 1955 no Festival de Música de Vanguarda do Teatro Arena, o grupo formado por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari usou pela primeira vez a expressão "poesia concreta". No ano seguinte, foi definido com uma exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o movimento Concretista, que se opunha às propostas poéticas da Geração de 45.
O movimento continha em suas veias um pouco do sangue antropofágico de Oswald de Andrade, o formalismo de Pound e a herança visual de Stéphane Mallarmé, mas buscava (ou já tinha encontrado) um novo estilo, "produto de uma evolução crítica de formas". Alguns estudiosos o consideram um sub-movimento, inserido nas muitas variações do Modernismo, sem a consistência que caracteriza os grandes movimentos artísticos.
No entanto a poesia brasileira deste período se debateu entre ser ou não ser concretista, muitos poetas se sentiram pressionados: era a morte da lírica?
Outros chegaram a pensar que aquele fosse o rumo definitivo da poesia, como se em poesia caminhos definitivos existissem. Mas não existem...
Felizmente a poesia brasileira é plural, terrivelmente plural, mesmo diante da avassaladora influência do concretismo, ocorrida não apenas pela qualidade da obra do grupo, mas pelo desenvolvimento de uma teoria poética sem precedentes em nossa história literária, com proposições e objetivos artísticos bem delineados: "linguagem direta, economia, arquitetura..." e, também, pelo excelente trabalho de traduções.
O concretismo enriqueceu a poesia brasileira contemporânea com a possibilidade da palavra pura, palavra-coisa, trouxe os ideogramas, a poesia russa moderna, Mallarmé e Octavio Paz, abrindo um novo leque poético.
Enfim , a grande contribuição do movimento foi ter colocado a poesia no centro da roda, instrumento de e para o debate, como uma "arte geral da palavra, poesia como produto: objeto útil.".
Poesia como coisa, coisas inventadas, reinventadas, reverbificadas. Décadas depois podemos afirmar: a experiência acrescentou novos códigos e parâmetros estéticos à cultura brasileira contemporânea, e ainda hoje desperta polêmicas. Quer mais? Ave Poesia! Assim seja.
O concretismo foi um movimento vanguardista que ocorreu nas artes plásticas, na música e na poesia. Surgiu na Europa, na década de 1950, e teve seu auge até a década de 1960. Os artistas precursores deste movimento foram: Max Bill (artes plásticas), Pierre Schaeffer (música) e Vladimir Mayakovsky (poesia).
Os princípios do concretismo afastam da arte qualquer conotação lírica ou simbólica. O quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos - planos e cores -, não tem outra significação senão ele próprio. A pintura concreta é "não abstrata", afirma Van Doesburg em seu manifesto, "pois nada é mais concreto, mais real, que uma linha, uma cor, uma superfície". Max Bill explora essa concepção de arte concreta defendendo a incorporação de processos matemáticos à composição artística e a autonomia da arte em relação ao mundo natural. A obra de arte não representa a realidade, mas evidencia estruturas, planos e conjuntos relacionados, que falam por si mesmos.
A expressão Poesia Concreta designa um dos vetores de força mais relevantes do sistema literário brasileiro ao longo de toda a segunda metade do século XX. Na história desse movimento cultural, é possível encontrar vários nomes bem conhecidos. Em primeiro lugar, os três criadores de uma revista literária chamada Noigandres, lançada em 1953: Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos. Em seguida, Ferreira Gullar, Ronaldo Azeredo e Wlademir Dias Pino, que também participaram da I Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada em São Paulo e no Rio de Janeiro em 1956 e 1957. A esse núcleo principal se acrescentam, posteriormente, vários outros, como, por exemplo, José Lino Grünewald e Pedro Xisto.
As questões centrais da Poesia Concreta podem ser resumidas e compreendidas a partir de dois pontos de vista: os pressupostos teóricos e os produtos resultantes da sua prática poética, isto é, o que denominamos "poema concreto".
Começando pelo último, a primeira constatação a fazer é que esse nome costuma designar objetos bastante diferentes entre si. Considerando apenas a obra de Augusto de Campos, por exemplo, é notável que sejam qualificados de "concretos" textos como Greve, Ovonovelo, O Anti-ruído, Luxo, Pluvial e Tensão. O que há em comum entre eles? O fato de utilizarem poucas palavras (ou pedaços de palavras) e de elas virem dispostas espacialmente de modo a valorizar o tamanho e a forma dos caracteres tipográficos, bem como as semelhanças fônicas entre as palavras ou fragmentos de palavras. Mas isso é tudo, pois nem mesmo é possível dizer que todos abandonam a sintaxe da língua natural e a substituem pela justaposição espacial; ou que a ordenação espacial seja, a rigor, geométrica.
Poesia Concreta não é, portanto, o nome de um conjunto de procedimentos, mas de uma prática poética e crítica orientada por alguns princípios e negações que é possível reconhecer na variedade dos textos e que são reafirmados como conjunto coerente por um discurso teórico-crítico muito persuasivo.
Na base da reflexão concretista parece estar a postulação de que a forma privilegiada da realização poética moderna é a escrita, isto é, de que poesia dos novos tempos da modernidade industrial dos anos 50 e 60 é basicamente um objeto de forma gráfica e de que o consumo da poesia inclui necessariamente a atividade visual. É esse postulado que embasa a reivindicação central da Poesia Concreta: a de que a ordenação espacial deve ter precedência sobre a ordenação sintática do poema. É ele que informa os princípios concretos de racionalidade e economia de meios expressivos, bem como o de que a poesia deve comunicar basicamente a sua própria estrutura. É também sobre ele que se apóiam as recusas enfáticas à sintaxe e à musicalidade das cadências regulares das linguagens naturais como base da organização do poema, bem como da metáfora e do desenvolvimento discursivo, descritivo ou argumentativo. Face ao primado do visual, o verso, medido ou livre, já não atenderia às necessidades da sensibilidade moderna, não passaria de um momento já obsoleto na "evolução crítica de formas", cujo produto, como se lê no "Plano-Piloto", de 1958, é a Poesia Concreta.
Um dos objetivos interessantes da Poesia Concreta é o Projeto Verbovocovisual, onde verbal, sonoro e visual se igualassem. O poema não é apenas linguagem verbal, mas também linguagens não-verbais, o que aproximou muito os poetas do concretismo das artes plásticas e da música...

Ainda a respeito do movimento Concretista, Bosi afirma o seguinte:
“No contexto da poesia brasileira, o concretismo afirmou-se como antítese à vertente intimista e estetizante dos anos 40 e repropôs temas, formas e, não raro, atitudes peculiares ao modernismo de 22, em sua fase mais polêmica e mais aderente às vanguardas européias. Os poetas concretos entendem levar às últimas conseqüências certos processos estruturais que marcaram o futurismo (italiano e russo), o dadaísmo e, em parte, o surrealismo, ao menos no que este significa de exaltação do imaginário e do inventivo no fazer poético. São processos que visam a atingir e a explorar as camadas materiais do significante (o som, a letra impressa, a linha, a superfície da página; eventualmente, a cor, a massa) e, por isso, levam a rejeitar toda concepção que esgote nos temas ou na realidade psíquica do emissor o interesse e a valia da obra. A poesia concreta quer-se abertamente antiexpressionista” (Bosi, 1994:476).

Características principais do Concretismo:

- Elaboração artística em busca da forma precisa;
- Ênfase na racionalidade, no raciocínio e na ciência;
- Uso de figuras abstratas nas artes plásticas.
- União entra a forma e o conteúdo na obra de arte;
- Na literatura, os poetas concretistas buscavam utilizar efeitos gráficos, aproximando a poesia da linguagem do design;
- Envolvimento com temas sociais (a partir da década de 1960);

NEOCONCRETISMO

O Neoconcretismo se vai aproximar bastante da instalação artística, da arte conceitual. E é nisso que reside a sua originalidade: na expansão do conceito de poema a um conjunto de atitudes e práticas não-verbais. O melhor exemplo dessa originalidade talvez seja o "Poema enterrado", de Ferreira Gullar. Essa obra poética era um cômodo subterrâneo, de forma cúbica, no centro do qual havia um grande cubo vermelho; este envolvia, por sua vez, um cubo menor, de cor verde, que envolvia um terceiro, de cor branca, em cuja face inferior o leitor poderia descobrir a palavra "rejuvenesça".
Lygia Pape nos concedeu esse depoimento:
"Nós nos separamos do Grupo Concreto de São Paulo porque eles queriam criar um projeto de dez anos de trabalho para o futuro. O grupo do Rio achou que era racionalismo demais. Nós queríamos trabalhar com a intuição, mais soltos.

"Trocávamos muita informação; havia mesmo uma certa impregnação na medida em que um conversava com o outro. O Neoconcreto não surgiu por acaso, também não foi uma coisa que nós elaboramos e depois começamos a trabalhar em cima. Foram as experimentações feitas antes que nos levaram a ele. Depois, o Gullar que era poeta, "copy-desk" do Jornal do Brasil, escrevia muito bem e estudava a teoria da arte, ficou encarregado de redigir um texto que tivesse a ver com o trabalho de todo mundo _ um texto posterior às obras.
Havia uma total liberdade, nada era dogmático. Todo mundo estava disposto a inventar. Não trabalhar só categorias convencionais. Na escultura, a idéia era destruir a base _ fazer um objeto que assim se chamasse mas que pudesse ser posto em qualquer posição. A pintura também não seria mais envolvida por uma moldura, avançaria no espaço. Eu mesma inventei um livro, chamado "Livro da Criação", onde narrava a criação do mundo sem palavras, meio artes plásticas, meio poesia. Esse sentido de invenção, de criação era o que realmente caracterizava o movimento. Naquela época ainda existia o pensamento de um quadro ser uma pintura na parede, para mera contemplação. Não tinha o sentido de participação, de uso de materiais diferentes; então tudo isso deu um sentido muito grande de liberdade. Na época não era fácil, nós tínhamos o mundo em oposição a nós."  Lygia Pape

POESIA-PRÁXIS
A poesia-práxis foi um movimento liderado por Mário Chamie, que a partir de 1961 começou a adotar a palavra como organismo vivo gerador de novos organismos vivos, ou seja, de novas palavras. Surge como dissidência da Poesia concreta.
O poema do Concretismo tem como característica primordial o uso das disponibilidades gráficas que as palavras possuem sem preocupações com a estética tradicional de começo, meio e fim e, por este motivo, é chamado de poema-objeto.
Outros atributos que podemos apontar deste tipo de poesia são: - a eliminação do verso; - o aproveitamento do espaço em branco da página para disposição das palavras; - a exploração dos aspectos sonoros, visuais e semânticos dos vocábulos; - o uso de neologismos e termos estrangeiros; - decomposição das palavras; - possibilidades de múltiplas leituras.
A comunicação através do visual era a forma de expressão de todas as poesias concretas. No entanto, houve particularidades que diferenciavam os poemas deste período em tipos de poesias. Assim, a poesia de Mario Chamie surge, revalorizando o ritmo, a palavra, o verso, sem abandonar o uso paranomásico dos fonemas.
A Poesia Práxis, que se autodenominava "vanguarda nova", pouco tem a ver com a primeira Poesia Concreta, tanto do ponto de vista dos pressupostos, quanto dos procedimentos compositivos. Mas é, como o "salto participante", uma tentativa de síntese ou compromisso entre as duas maiores tendências da poesia dos anos 60: a "participação social" e a "vanguarda", isto é, o formalismo programático.
Também é constante e ostensivo o caráter "participante" ou "social" da Poesia Práxis, que incessantemente denuncia a desumanidade da vida moderna, do capitalismo, da exploração do operariado e do campesinato, etc.
Como boa parte da poesia "engajada" do tempo, também a Poesia Práxis testemunha, assim, por esse lado, além do imperativo ético da denúncia da injustiça social, uma necessidade catártica da consciência burguesa ilustrada nos anos de chumbo do Brasil. Necessidade essa que freqüentemente se resolve num tipo de poesia que pouco sobrevive ao momento e às razões da sua produção.

POEMA-PROCESSO

Uma última decorrência da vanguarda concretista é o Poema-Processo, cujo vulto proeminente é Wlademir Dias Pino, um dos participantes da Exposição de 1956. Lançado em final de 1967, com a usual exposição e os necessários manifestos, o Poema-Processo caracteriza-se desde o início pela recusa radical à discursividade. Tão radical que chega à literalidade: no início de 1968 os criadores do Poema-Processo destroem publicamente livros de poetas "discursivos" seus contemporâneos nas escadarias do Teatro Nacional, no Rio de Janeiro.
Propondo-se a combater tanto a discursividade, quanto a poesia "tipográfica" concretista, o Poema-Processo visa, em última análise, a uma poesia sem palavras, ou, pelo menos, a uma poesia em que o signo verbal ocupe um lugar de importância secundária. Por isso mesmo estende de forma inaudita o sentido da palavra "poema", a ponto de poder denominar "poema" a uma passeata ou outra performance coletiva, bem como um objeto gráfico desprovido de letras ou palavras.
Visto de hoje, o Poema-Processo, do ponto de vista da produção e da reflexão sobre a cultura, parece apenas um eco — exacerbado e espetacular, é certo — das formulações e experiências mais conseqüentes e radicais levada a cabo, pouco antes ou simultaneamente, pelos poetas concretos do grupo Noigandres.


domingo, 21 de novembro de 2010

Seminário de Lit Bras I

Sobre o seminário de terça-feira (23/11), Gostaria que Ana Paula Souza, responsável pelo tema Simbolismo, entrasse em contato comigo pelo seguinte email: claudinepaula@ig.com.br

OBS.: Alguém alugou o datashow para este dia??

sábado, 20 de novembro de 2010

Segue abaixo um link do site da Biblioteca Nacional com um artigo que fala sobre a Literatura Colonial no Brasil. O artigo faz observações feitas também pelo escritor Afrânio Coutinho no livro Conceito de Literatura Brasileira. 
Traz também assuntos abordados na apresentação do seminário de Arcadismo (grupo: Samara, Letícia e Hugo).

http://bndigital.bn.br/redememoria/litcolonial.html

att.
Samara H.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Uso do data show no seminário

A pedido da professora Angeli, estou informando que nesta terça (16/11) será a apresentação de seminário do meu grupo (Arcadismo) e já reservamos o data show. Com isso, o outro grupo que se apresentará no mesmo dia (Barroco), se necessitar utilizar o mesmo recurso para a apresentação, poderá compartilhar conosco o equipamento.
Nossa apresentação terá que ser feita na sala F -210 para o devido funcionamento do data show.

att,
Samara H.

sábado, 6 de novembro de 2010

Seminário!

Seminário de Lit Bras I - "Modernismo: vanguardas". Quem ainda não tem grupo entrar em contato pelo e-mail gustavo_machado17@hotmail.com ou machadogb@hotmail.com o quanto antes!

Obrigado,

Gustavo B. Machado

domingo, 17 de outubro de 2010

indicação de leitura

Há textos novos nas pastas: 251 A-poesia;e 251 - prosa (a indicação da semana de leitura: de 12 a 14/10/2010);

Turma de lit bras II: O romance O Burlador de Sevilha p/19/10 e 21/10/2010;

Turma de lit bras I:indicação de aquisição da apostila de poesia do prof.Alcmeno Bastos lit bras.I

leitura
p/ambas as turmas,leitura de curso indispensável:
 
COUTINHO,Afranio.Conceito de literatura brasileira.
                                                                                                             Petrópolis:RJ:Vozes,2008

O mago e o bastão


Angelo Venosa,artista plástico                                                          

O artista da capa

Angelo por ele mesmo

Obra em movimento

sábado, 16 de outubro de 2010

CURSORES DE LEITURA

O Burlador de Sevilha,de João Gabriel de Lima

                                                       Destaques:
As paixões de adolescência determinam muitas de nossas escolhas.(pp9)

Claro que a paixão não é a única variável das escolhas que fazemos,mas ela está no início de tudo.(pp9)

Partimos, então, para o maior grau de intimidade que pode ser desfrutado por um homem e uma mulher,que é o sexo desprovido da ilusão de eternidade.(pp27)

É um raro tipo de mulher que viaja sem viajar.(pp21)

História puxa história.(pp28)

O homem que mantém o Criado sob contrato trabalha no ramo da mentira.(pp30)

O bom serviçal é aquele que permanece invisível enquanto seu trabalho aparece.(pp35)

Uma das grandes vantagens da arte da burla é exatamente esta.Poder planejar o acaso com alguma antecedência.(pp45)

O papel é o sepulcro das boas histórias e dos bons personagens - mas,como ocorre com as pessoas de carne e osso,não se pode enterrá-los sem ter a certeza de que estão bem mortos.(pp48)

Todas as boas narrativas,da literatura às fofocas,passando pelas óperas,desprezam o trivial.(pp81)

A imaginação seria uma forma de verdade(...)(pp82)

Existem duas maneiras de ler cartas.Pelo que contam e pelo que omitem.(pp89)

Sua experiência lhe ensinara que os intelectuais de universidade que galgam postos mais rapidamente não são os que demonstram inteligência,mas sim os que destilam erudição.(pp98)

O que nos move a escrever uma história é a certeza de que, se não o fizéssemos,ninguém mais o faria.(pp120)

Nem o maior dos burladores é capaz de burlar a passagem do tempo.(pp124)

A única eternidade possível é a da memória.(pp125)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Skoob

Boa Noite a todos,
Venho aqui para dar a dica do skoob, uma rede de relacionamento que gira em torno de livros. Lá, voce pode construir sua estante de livros assim como publicar resenhas e avaliações sobre eles. Espero que todos gostem da dica.
O endereço é: www.skoob.com.br

Vou deixar também o link do meu perfil para quem quiser me adicionar:
http://www.skoob.com.br/usuario/16996

Bom final de feriado para todos e boas leituras também,
Suelen Fonteles Lyszy.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

AVISO AOS NAVEGANTES

Há textos novos nas pastas: 251 A-poesia;e 251 - prosa (a indicação da semana de leitura: de 12 a 14/10/2010);

Turma de lit bras II: O romance O Burlador de Sevilha p/19/10 e 21/10/2010;

Turma de lit bras I:indicação de aquisição da apostila de poesia do prof.Alcmeno Bastos lit bras.I

Destaque:
p/ambas as turmas,leitura de curso indispensável: COUTINHO,Afranio.Conceito de literatura brasileira.
                                                                                                             Petrópolis:RJ:Vozes,2008

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Microcontos

Um vida inteira pela frente. O tiro veio por trás.
Cíntia Moscovich (Os cem menores contos brasileiros do século, 2004)
 O microconto surgiu como uma forma de adaptação da leitura à sociedade moderna, que vem se tornando cada vez mais objetiva: nada mais justo que ter literatura acessível no pouco tempo que nos sobra no dia-a-dia.
 Nele, autor e leitor se completam, visto que, nas palavras do autor, estão implícitos personagens e situações, transformando o leitor em co-autor.

 Aponto dois links interessantes de Marcelo Spalding, escritor e mestre em Literatura Brasileira:


Breve ensaio sobre a micronarrativa contemporânea em língua portuguesa:
http://www.msmidia.com/spalding/veredas/popup/textos_detalhes.asp?id=315

Vinícius de Moraes e o Soneto de fidelidade


















imagem: André Koehne
          Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, ou Vinícius de Moraes, (Rio de Janeiro, 1913-1980) foi um dos poetas mais expressivos do século XX. Bem aceito pela crítica porém, menos lido pelo público do seu tempo.   Foi autor de teatro, com destaque para Orfeu da conceição (1956), e crítico de cinema e cronista de colaboração regular na grande imprensa do país. Com a chegada da Bossa Nova, intensificou sua atuação como compositor e letrista, tornando-se uma das figuras centrais da música popular brasileira.

A fome do primeiro grito
Hilda Hilst


XLII

As barcas afundadas. Cintilantes
Sob o rio. E é assim o poema. Cintilante
E obscura barca ardendo sob as águas.
Palavras eu as fiz nascer
Dentro de tua garganta.
Úmidas algumas, de transparente raiz:
Um molhado de línguas e de dentes.
Outras de geometria. Finas, angulosas
Como são as tuas
Quando falam de poetas, de poesia.

As barcas afundadas. Minhas palavras.
Mas poderão arder luas de eternidade.
E doutas, de ironia as tuas
Só através de minha vida vão viver.

          De Amavisse (1989)

LXII

Que as barcaças do Tempo me devolvam
A primitiva urna de palavras.
Que me devolvam a ti e o teu rosto
Como desde sempre o conheci: pungente
Mas cintilando de vida, renovado
Como se o sol e o rosto caminhassem
Porque vinha de um a luz do outro.

Que me devolvam a noite, o espaço
De me sentir tão vasta e pertencida
Como se as águas e madeiras de todas as barcaças
Se fizessem matéria rediviva, adolescência e mito.

Que eu te devolva a fome do meu primeiro grito.

          De Amavisse (1989)
 
 http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet054.htm


"O artista é mais conhecido pelos pequenos retratos de negros e negras realizados a óleo sobre madeira ou a guache sobre papel, “com maestria e com uma certa tensão expressionista”, segundo avaliação de Emanoel Araujo. Tobias tem obra pouco pesquisada ainda, apesar da qualidade e do empenho do artista em desenvolver a técnica pictórica."( http://negroearte.blogspot.com/2009/01/retrato-de-mulher-benedito-jos-tobias.html)


POR QUE LER HILDA HILST?


PÉCORA, Alcir. Por que ler Hilda Hilst. São Paulo: Editora Globo,  2010.   116 p.  IBSN 978-85-250-4845-4


 
"Em geral, nos escritos de Hilda Hilst, a expectativa mística não se realiza senão como estigma, dor e vazio. Maldade e  vileza são os atributos divinos mais palpáveis". ALCIR PÉCORA

 

         Hilda Hilst é mais famosa do que lida, estigmatizada por sua fama de maldita e obscena.
         Alcir Pécora organizou um guia de leitura da autora paulista, falecida em 2004, que vem despertando o interesse das novas gerações, notadamente entre os jovens.  Autora de mais de quarenta títulos, começou pelos de poesia e derivou para textos intergenérios que incluem o teatro, a crônica, o romance e relatos de todo o tipo que, no entanto, mantêm o que Pécora intitula "prosa poética".  E justifica: "Certa discursividade anárquica desordena a narrativa, que se compõe  sucessivamente  como romance memorialístico; diálogos soltos (...)"
         Hilda seria desconhecida do grande público, que sabe dela por referências truncadas e sensacionalistas, mas já passam  de 46 as dissertações de mestrado sobre a autora e suas obras estão sendo relançadas no mercado, fantástico para uma escritora que publicava, em vida, à margem das grande s editoras: "a publicação de quase toda a obra em edições artesanais, em geral muito bonitas, produzidas por artistas amigos, mas sem qualquer alcance de distribuição", informa o pesquisador.  Só depois de sua morte é que a celebridade ganhou contornos públicos, considerada "mulher ousada, original,
avançada para a sua época, louca refinada e explosiva etc", continua. E arremata: "Não é difícil imaginar hipóteses para esse quadro em que a imagem pública da artista como tipo excêntrico predominou sobre o conhecimento da obra." Daí a intenção do livro sobre a autora.
         Alcir Pécora disserta sobre a questão da obscenidade  e a pornografia nos textos de Hilda, em que defende a tese de que ela escapa das intenções da literatura pornográfica de consumo comercial. Para Pécora, "há certamente erotismo na produção poética de registro mais elevado, na qual Hilda faz imitação deliberada da maneira antiga. O seu movimento estilístico, que tende ao sublime, ainda que contraposto a traços de rebaixamento, estabelece as balizas de um desejo de aspiração metafísica, que emula modelos poéticos de erotismo a lo divino,  à imitação da poesia mística seiscentista da península ibérica, nas quais o amante é tomado como análogo de um desejo de transcendência.  Mas não há como propor erotismo, a não ser como redefinição radical do termo, na tetralogia obscena."(p. 19). E defende: "Acontece que os textos de Hilda Hilst ditos pornográficos simplesmente  contrariam a regra de ouro da pornografia banal, que é a simulação realista." (p.20)
         O livro inclui também os textos de Luisa Destri e Cristiano Diniz ("Um retrato da artista" e "Cronologia")e o "Ensaio de Leitura" de Sonia Purceno, além da seção "Estante", por esta última, em que arrola as obras de  e alguma fortuna crítica  sobre Hilda.

         Como o nosso foco é a poesia, cabe finalizar com uma declaração de Luisa Destri e Cristiano Diniz sobre a forma de composição de Hilda Hilst (p. 42-43):

" Para Hilda havia uma enorme diferença entre o processo de criação da poesia e o da prosa de ficção. O primeiro era definido como um estado febril que inesperadamente a tomava por dias consecutivos. A autora começava anotando um verso aqui, uma frase ali. O processo se intensificava e os poemas tomavam forma.

Sua mesa de trabalho começava a encher-se de papéis. Não importava o dia, a hora ou o que estivesse fazendo; poderia estar lendo, tomando banho ou assistindo à televisão (o que se tornaria um de seus passatempos favoritos, especialmente quando acompanhado de
doses de uísque), os versos "vinham", "eram recebidos" a qualquer momento enquanto ela se encontrava neste "estado poético". Assim, em sua opinião, não adiantava se
sentar e se propor a escrever um poema se não estivesse nesta condição. O "receber", entretanto, não era obra apenas de centelhas divinas. Hilda reconhecia que leituras, estudos e, principalmente, questionamentos precediam esse momento "imprevisto" de criação poética. A partir da preparação, portanto, é que a poesia se tornava possível, embora o estudo não parecesse suficiente para explicar a origem da intuição."        

www.antoniomiranda.com.br

Ai vai o Link !

Neste link você vai encontrar artigos, entrevistas, cronologia e bibliografia sobre Antonio Candido importate critico
literario brasileiro.
Link:  http://www.pacc.ufrj.br/literaria/umabibliografia.html

Dica!

Esta em cartaz a peça infantil O Cavalinho Azul de Maria Clara Machado.
Sábado e domingo as 17:00 hs.Teatro dos Quatro, Shopping da Gávea.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.
Em  cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;

Em cismar –sozinho, à noite–

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;

Sem que disfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá. 

 
De Primeiros cantos (1847)
 

Primeiras Estórias, João Guimarães Rosa


Conto 16 - Partida do audaz navegante de Guimarães Rosa

Olá a todos,
Deliciem-se com o conto que deu origem ao nome no blog.
Boa leitura!


        Na manhã de um dia em que brumava e chuviscava, parecia não acontecer coisa nenhuma. Estava-se
perto do fogo familiar, na cozinha, aberta, de alpendre, atrás da pequena casa. No campo, é bom; é assim. Mamãe, ainda de roupão, mandava Maria Eva estrelar ovos com torresmos e descascar os mamões maduros. Mamãe, a mais bela, a melhor. Seus pés podiam calçar as chinelas de Pele. Seus cabelos davam o louro silencioso. Suas meninas dos olhos brincavam com bonecas. Ciganinha, Pele e Brejeirinha elas brotavam num galho. Só o Zíto, este, era de fora; só primo. Meia manhã  chuvosa entre verdes: o fúfio fino borrifo, e a gente fica quase presos, alojados, na cozinha ou na casa, no centro de muitas lamas. Sempre se
enxergam o barranco, o galinheiro, o cajueiro grande de variados entortamentos, um pedaço de
um morro e o longe. Nurka, negra, dormia. Mamãe cuida com orgulhos e olhares as três meninas e o menino. Da Brejeírinha, menor, muito mais. Porque Brejeírinha, às vezes, formava muitas artes.
        Nesta hora, não, Brejeirínha se instituíra, um azougue de quieta, sentada no caixote de batatas. Toda cruzadlnha, traçadas as pernocas, ocupava-se com caixa de fósforos. A gente via Brejeirinha: primeiro, os cabelos, compridos, lisos, lourocobre; e, no meio deles, coisicas diminutas: a carinha nãocomprida, o perfilzinho agudo, um narizlnho quecarícia. Aos tantos, não parava, andorinhava, espiava agora o xíxixl e o empapar-se da paisagem as pestanas tiltil. Porém, dissese dizia ela, pouco se vê, pelos entrefios: " Tanto chove, que me gela!" Aí, esticou-se para cima, dando com os pés em diversos objetos. "Ui, uite!" rolara nos cachos de bananas, seu umbigo sempre aparecendo. Pele ajudava-a a se endireitar. ..... E o cajueiro ainda faz flores... acrescentou, observava da árvore não se interromper mesmo assim, com essas aguaceirices, de durante dias, a chuvínha no bruaar e a pálida manhã do céu. Mamãe dosava açúcares e farinhas, para um bolo. Pele tentava ajudar, diligentil. Ciganinha lia um livro; para ler ela não precisava virar página. Cíganinha e Zito nem muito um do outro se aproximavam, antes paravam meio brigados, de da véspera, de uma briguinha grande e feia. Pele é que era a morena, com notáveis olhos. Ciganinha, a menina linda no mundo: retrato miúdo da mamãe. Zito perpensava assuntos de não ousar dizer, coisas de ciumoso, ele abrirase à espécie de ciúmes sem motivo de quê ou quem. Brejeirinha pulou, por pirueta. " Eu sei por que é que o ovo se parece com um espeto!" ; ela vivia em álgebra. Mas não ia contar a ninguém. Brejeirinha é assim, não de siso débil; seus segredos são sem acabar. Tem porém infimículas inquietações: "Eu hoje estou com a cabeça muito quente.. ." isto, por não querer estudar. Então, ajunta: " Eu vou saber geografia." Ou: "Eu queria saber o amor.. ." Pele foi quem deu risada. Ciganínha e Zíto erguem olhos, só quase assustados. Quase, quase, se entrefitaram, num não encontrar-se.Mas, Ciganinha, que se crê com a razão, muxoxa. Zito, também, não quer durar mais brigado, viera ao ponto de não agüentar. Se, à socapa, mirava Ciganinha, ela de repente mais linda se envoava.
        "Sem saber o amor, a gente pode ler os romances grandes?" Brejeirinha especulava. "É, hem? Você não sabe ler nem o catecismo.. ."Pele lambava-lhe um tico de desdém; mas Pele não perdia de boazinha e beliscava em doce, sorria sempre na voz. Brejeimnha rebica, plcuíca: "Engraçada! ... Pois eu li as 35 palavras no rótulo da caixa de fósforos.. ." Por isso, que avançar afirmações, com superior modo e calor de expressão, deduzidos de babinhas. "Zito, tubarão é desvairado, ou é explícito ou demagogo?" Porque gostava, poetista, de importar desses sérios nomes, que lampejam longo clarão no escuro de nossa ignorância. Zito não respondia, desesperado de repente, controversiosoculposo,sonhava ir-se embora, teatral, debaixo de chuva que chuva, ele estaiava numa raiva. Mas Brejeimnha tinha o dom de aprender as tenuidades: delas apropriava-se e refletia-as em si a coisa das coisas e a pessoa das pessoas. "Zito, você podia ser o pirata inglório marujo, num navio muito intato, para longe, loõonge no mar, navegante que o nunca mais,de todos?" Zito sorri, feito um ar forte. Ciganlnha estremecera, e segurou com mais dedos o livro, hesltada. Mamãe dera a Pele a terrina, para ela bater os ovos. Mas Brejeminha punha mão em rosto, agora ela mesma empolgada, não detendo em si o jato de contar:
        "O aldaz navegante, que foi descobrir os outros lugares valetudinário. Ele foi num navio, também, falcatruas. Foi de sozinho. Os lugares eram longe, e o mar. O aldaz navegante estava com saudade, antes, da mãe dele, dos irmãos, do pai. Ele não chorava. Ele precisava respectivo de ir. Disse: "Vocês vão se esquecer muito de mim?' O navio dele, chegou o dia de ir. O aldaz navegante ficou batendo o lenço branco, extrínseco, dentro do indose embora do navio. O navio foi saindo do perto para o longe, mas o aldaz navegante não dava as costas para a gente, para trás. A gente também inclusive batia as lenços brancos. Por fim, não tinha mais navio para se ver, só tinha o resto de mar. Então, um pensou e disse: 'Ele vai descobrir os lugares, que nós não vamos nunca descobrir...' Então e então, outro disse:  'Ele vai descobrir os lugares, depois ele nunca vai voltar...' Então, mais, outro pensou, pensou, esférico, e disse:  'Ele deve de ter, então, a alguma raiva de nós, dentro dele, sem saber...' Então, todos choraram, muitíssimos, e voltaram tristes para casa, para jantar... Pelé levantou a colher: "Você é uma analfabetinha 'aldaz' ".  "Falsa a beatinha é tu!" Brejeirínha se malcriou. "Por que você inventa essa história de de tolice, boba, boba?" e Ciganinha se feria em zanga.
        "Porque depois pode ficar bonito, uê!" Nurka latira. Mamãe também estava brava? Porque Brejeirinha topara o pé em cafeteiras, e outras. Disse ainda, reflexiva:
        "Antes falar bobagens, que calar besteiras..." Agora, fechou os olhos que verdes, solene arrependida de seu desalinho de conduta. Só ouvirá o rumorejo da chuvinha, que estarão fritando.
        A manhã é uma esponja. Decerto, porém, Pele rezara os dez responsos a Santo Antônio, tãoquanto batia os ovos. Porque estourou manso o milagre. O tempo temperou. Só era março compondo suas chuvas ordinárias. Ciganinha e Zito se suspiravam. Soltavamse as galinhas do galinheiro, e o peru. Saíase, ao largo, Nurka. O céu tornava a azul?
        Mamãe ia visitar a doente, a mulher do colono Zé Pavio. "Ah, e você vai conosco ou semnosco? "Brejeirinha perguntava. Mamãe, por não rir nem se dar de alheada, desferia chuf as meigas: "Que nossa vergonha! .. ." e a dela era uma voz de vogais doçuras. A manhã sefaz de flores. Então, pediu-se licença de ir espiar o riachinho cheio. Mamãe deixava, elas não eram mais meninas de agarra a saia.De impulso, se alegraram. Só que alguém teria de junto ir, para não se esquecerem de não chegar perto das águas perigosas. O rio, ali, é assaz. Se o Zito não seria, próprio, essa pessoa de acompanhar, um meiozinhohomem, leal de responsabilidades?
        Cessou-se a cerração do ar. Mas tinham de vestir outras roupas quentes.  "Oh, as grogrolas!" Brejeírinha de alegria ante todas, feliz como se, se, se: menina só ave.  "Vão com Deus!" Mamãe disse, profetisa, com aquela voz voável. Ela falava, e choviam era bátegas de bênçãos. A gentezinha separou-se.
        A ir lá, o caminho primeiro subia, subvexo, a ladeirinha do combro, colinola. Tão mesmo assim, os dois guardachuvas. Num avante Brejeimnha e Pele. Debaixo do outro, Zito e Cigamnha. Só os restos da chuva, chuvinha se segredando. Nurka corria, negramente, e enfim voltava, cachorra destapada ditosa. Se a gente se virava, viase a casa, branquiria com a lista verdeazul, a mais pequenina e linda, de todas, todas, Zito dando o braço a Ciganinha, por vezes, muito, as mãos se encontravam.
        Pele se crescia, elegante. E ágil ia Brejeirinha, com seu casaquinho coleóptero. Ela andava pés para dentro, feito um periquitinho, impávido.
        No transcenso da colíneta, Zito e Ciganinha calavamse, muito às tortas, nos comovidos nãofalares. Sim, já se estavam em pé de paz, fazendo sua experiência de felicidade; para eles, o passeio era um fato sentimental. Descia-se agora a outra ladeira, pegando cuidado, pelo enlameável e escorregoso, poças, mas também para não pisar no que Brejeirinha chamava de "o bovino" altas rodelas de esterco cogumeleiro. Ali, com efeito, andavam bois: "o boi, beiçudo"; aí, Brejeirinha levou tombo. Ela disse que mamãe tinha dito que eles precisavam de ter: coragem com juízo. Mas, isso, era mentirinhas. E, o que pois: "Agora, já me sujei, então agora posso não ter cuidado..." Correu, com Nurka, pela encosta inferior, no verdinho pasto. Pele ainda ralhou: " Você vai buscar um audaz navegante?" Mas, mais. Entanto, à úmida, à luz, o plano capim e floriu-se: estendem-se, entremunhadas, as margaridinhas, todas se rodeiam de pálpebras.
        O que se queria, aqui, era a pequena angra, onde o riachinho faz foz. Abaixo, aos bons bambus, e às pedreiras de beirario,ouvindo o ronco, o bufo d'água. Porque, o rio, grossoso, se descomporta, e o ríachinho porém também, seu estuirlo já feio cheio, refuso, represado, encapelado pororoqueja. "Bochechudo!" grita-lhe Brejeirinha. Sumiuse a última arelinha dele, sob baile de um atoalhado de espumas, no belo despropositarse, o bulír de bolhas. Brejeimnha já olhou tudo de cor.
        Cravou varetas de bambu, marcando pontos, para medir a água em se crescer, mudando de lugar. Porém, o fervor daquilo impunha-lhe recordações, Brejeirinha não gostanclo de mar: " O mar não tem desenho. O vento não deixa. O tamanho.. ." Lamentava-sede não ter trazido pão para os peixes. "Peixe, assim, a esta hora?" Pele duvidava.
        Divagava Brejeirlnha: "A cachoeírinha é uma parede de água.. ." Falou que aquela, ali, no rio, em frente, era a Ilhazinha dos Jacarés. "Você já viu jacaré lá?" caçoava Pele. "Não. Mas você também nunca viu o jacaré não estar lá.Você vê é a ilha, só. Então, o jacaré pode estar ou não estar.. ." Mas, Brejeirinha, Nurka ao lado, já vira tudo, em pé em volta, seu par de olhos passarinhos. Demorava-se, aliás, o subir e alargar-se da água, com os mileum movimentos supérfluos.
        A gente se sentava, perto, não no chão nem em tronco caldo, por causa do chovido do molhado. Ciganlnha e Zito, numa pedra, que dava só para dois, podiam horas infinitas; apenas, conversando ainda feito gente trivial. Pele safra a colher um feixe de flores. Mais não chuviscava. Brejeirmnha já pulando de novo. Disse: que o dia estava muito recitado. Voltava-separa a contramargem, das mais verdes, e jogava pedras, o longe possível, para Nurka correndo ir buscar. Depois, se acocora, de entretcr, parece que já está até calçada com um sapatinho só. Mas, sem se desagachar, logo gira nos pezlnhos, quer Clganínha e Zito para ouvirem. Olha-os. "O aldaz navegante não gostava de mar! Ele tinha assim mesmo de partir? Ele amava umamoça, magra. Mas o mar veio, ém vento, e levou o. navio dele, com ele dentro, escrutínio. O aldaz navegante não podia nada, só o mar, danado de ao redor, preliminar. O aldaz navegante se lembrava muito da moça. O amor é original... Ciganinha e Zito sorriram. Riram juntos. "Nossa! O assunto ainda não parou?" era Pele voltada, numa porção de flores se escudando. Brejeirinha careteou um "ah!" e quis que continuou: "... Envém a tripulação... Então, não.Depois, choveu, choveu. O mar se encheu, o esquema, amestrador... O aldaz navegante não tinha caminho para correr e fugir, perante, e o navio espedaçado. O navio parambolava... Ele, com o medo, intato, quase nem tinha tempo de tornar a pensar demais na moça que amava, circunspectos. Ele só a prevaricar... O amor é singular...
        " E daí?"
        "A moça estava paralela, lá, longe, sozinha, ficada, inclusive, eles dois estavam nas duas pontinhas da saudade... O amor, isto é... O aldaz navegante, o perigo era total, titular... nao tinha salvação... O aldaz... O aldaz...
        "Sim. E agora? E daí?" Pele intimavaa.
        "Aí? Então.., então... Vou fazer explicação! Pronto. Então, ele acendeu a luz do mar. E
pronto. Ele estava combinado com o homem do farol... Pronto. E...
         "Naão. Não vale! Não pode inventar personagem novo, no fim da estória, fu! E olha o seu 'aldaz navegante', ali. É aquele..."
        Olhou-se. Era: aquele a coisa vacum, atamanhada, embatumada, semi-ressequida, obra pastoril no chão de límugem, e às pontas dos capins chato, deixado. Sobre sua eminência, crescera um cogumelo de haste fina e fiexuosa, muito longa: o chapeuzinho branco, lá em cima, petulante se bamboleava. O embate e orla da água, enchente, já o atingiam, quase.
        Brejeírlnha fez careta. Mas, nisso, o ramilhete de Pele se desmanchou, caindo no chão umas flores. "Ah! Pois é, é mesmo!' e Brejeirinha saltava e agia, rápida no valerse das ocasiões. Apanhara aquelas florinhas amarelas josésmoleques, douradinhas e margaridinhas e veio espetálas no concrôo do objeto. "Hoje não tem nenhuma flor azul?" ainda indagou. A risada foi de todos, Ciganinha e Zito bateram pal.mas. "Pronto. É o aldaz navegante.. ." e Brejeirinha criavao de mais coisas folhas de bambu, raminhos, gravetos. Já aquela matéria, o "bovino", se transformava.
        Deu-se, aí, porém, longe rumor: um trovão arrasta seus trastes. Brejeirinha teme demais os trovões. Vem para perto de Zito e Ciganinha. E de Pele. Pele, a meiga. Que: "Então? A estória não vai mais?Mixou?"  
        "Então, pronto. Vou tornar a• começar. O aldaz navegante, ele amava a moça, recomeçado. Pronto. Ele, de repente, se envergonhou de ter medo, deu um valor, desassustado. Deu um pulo onipotente... Agarrou, de longe, a moça, em seus abraços... Então, pronto. O mar foi que se aparvolhou-se.Arres! O aldaz navegante, pronto. Agora, acabouse mesmo: eu escrevi 'Fim'
        "De fato, a água já se acerca do "aldaz navegante", seu primeiro chofre golpeavao. "Ele vai para o mar?" perguntava, ansiosa, Brejeirmnha. Ficara muito de pé. Um ventínho faz nela bilobilo acarinha-lhe o rosto, os lábios, sim, e os ouvidos, os cabelos. A chuva, longe, adiada.
        Segredando-se, Ciganinha e Zito se consideram, nas pontinhas da realidade.  "Hoje está tão bonito, não é? Tudo, todos, tão bem, a gente alegre... Eu gosto deste tempo.. ." E:  "Eu também, Zito. Você vai voltar sempre aqui, muitas vezes?" E: "
Se Deus quiser, eu venho.. ." E: "Zito, você era capaz de fazer como o audaz navegante? Ir descobrir os outros lugares?" E:  "Ele foi, porque os outros lugares ainda são mais bonitos, quem sabe?.. ." Eles se disseram, assim eles dois, coisas grandes em palavras pequenas, ti a mim, me a ti, e tanto. Contudo, e
felizes, alguma outra coisa se agitava neles, confusa assim rosaamorespínhos saudade.
        Mas, o "aldaz navegante" agora à água se apressa, no vir e ir, seu espumitar chegalhe já reemredor, começando a ensopação. Ei-lo circunavegável, conquanto em firme terrestreidade: o chão ainda o amarrava de romper e partir. Brejeirinha aumenta-lhe os adornos. Até Ciganinha e Zito pegam a ajudar. E Pele. Ele é outro, colorido, estrambótico, folhas, flores.  "Ele vai descobrir os outros lugares.. ."  "Não, Brejeirinha. Não brinca com coisas sérias!"  "Uê? O quê? "Então, Ciganinha, cismosa, propõe:  "Vamos mandar, por ele, um recado?" Enviar, por ora, uma coisa, para o mar. Isso, todos querem. Zito põe uma moeda. Ciganinha, um grampo. Pele, um chicle. Brejerinha um cuspinho; é o "seu estilo". E a estória? Haverá, ainda, tempo para
recontar a verdadeira estória? Pois: "Agora, eu sei. O aldaz navegante não foi sozinho; pronto!
Mas ele embarcou com a moça que ele amavam-se, entraram no navio, estrito. E pronto. O mar foi indo com eles, estético. Eles iam sem sozinhos, no navio, que ficando cada vez mais bonito, mais bonito, o navio... pronto: e virou vagalumes..."
        Pronto. O trovão, terrível, este em céus e terra, invencível. Carregou. Brejeírinha e o trovão se engasgam. Ela iria cair num abismo "intato" o vão do trovão? Nurka latiu, em seu
socorro. Ciganinha, e Pele e Zito, também, vêm para a amparar. Antes, porém, outra, fada, inesperada, surgia, ali, de contraflor.
        "Mamãe! "
        Deitouselhe ao pescoço. Mamãe aparava-lhe a cabecinha, como um esquilo pega uma noz. Brejeírinha ri sem til. E, Pele:
        "Olha! Agora! La se vai o 'aidaz navegante'!"
        "Ei!"
        "Ali!"
        O Aldaz! Ele partia. oscilado, só se dançandoando, espumas e águas o levavam, o audaz navegante, para sempre, víabundo, abaixo, abaixo. Suas folhagens, suas flores e o airoso cogumelo, comprido, que uma gota orvalha, uma gotinha, que perluz no pináculo de uma trampa seca de vaca.
        Brejeiinha se comove também. No descomover-se, porém, é que diz: "Mamãe, agora eu sei, mais: que o ovo só se parece, mesmo, é com um espeto!"
        De novo, a chuva dá.
        De modo que se abriram, asados, os guarda-chuvas.



Fonte: barichello.googlepages.com/partida_do_audaz_navegante.pdf

Carolina S Lacerda Medeiros
Edição completa: Suelen F. Lyszy